sexta-feira, julho 30, 2010

MORREU ANTÓNIO FEIO: DAQUI JÁ O SAUDAMOS

António Feio
Morreu o artista António Feio, vítima de um cancro no pâncreas, contra o qual lutou de forma corajosa e usando os seus próprios meios de actor, um homem de vocação precoce e nos últimos tempos, apesar da doença, trabalhando com intensidade, com um humor de denúncia, a gritar a vida que afinal saudava contra todos os absurdos.











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António Feio, lembrado hoje, desde cedo, na televisão, foi sendo conhecido por quem (porventu-ra) só o descobrira tarde. Ali estava o menino a contracenar com Rui de Carvalho há muitos anos . Foi recordada a sua vida, o seu tempo em Moçambique e as prestações lá desenvolvidas, como depois, num outro tempo, aqui, fazendo drama (excepcional na peça onde se tratava o tema da droga). Devotado também à comédita, trabalha como encenador e professor de expressão dramática. Aprofunda largamente o vasto espaço do humor, abrangendo o seu lado absurdo, o non-sense, sem abdicar de sinais de denúncia, em diferentes paralelos, visando o real humano.
Aqui fica a nossa voz, por António Feio, sem lamentação e apesar da perda que significa a sua morte, numa altura em que o vazio acontece, injusto, na hora de uma idade ainda fecunda.

quinta-feira, julho 29, 2010

MUSEU DO CÔA COM GRAVURAS AFUNDADAS

MUSEU DO CÔA

O MUSEU DO CÔA será inaugurado amanhã, sexta-feira, 30 de Julho. A grandeza e originalidade deste projecto, além de todo o parque cuja visão de futuro e abertura ao conhecimento dos testemunhos civilizacionais da humanidade enobrece o país dos Descobrimentos, não parece capaz de resistir à crise, uma vez que, tanto quanto se sabe hoje, 29, só a Ministra da Cultura presidirá ao decorrer da cerimónia. Mas não é isso o mais importante. O mais importante (e desconcertante) é o sinal enganador com que as autoridades nos presenteiam: uma inabalável exposição temporária de gravura («Gesto e Inscrição»), com obras coleccionadas pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. São 38 trabalhos, entre os quais nove artistas portugueses, nomeadamente Pedro Cabrita Reis, Fernando Calhau, José Pedro Croft, Julião Sarmento, Michael Bibertein, Alberto Carneiro, Carlos Figueiredo, Ângelo de Sousa e Francisco Tropa.


Sendo o Museu e o complexo do Côa uma forte realidade que marcará muitos reconhecimentos de vários períodos relativos aos riscos iniciais, à emergência encantatória da arte na marcha evolutiva do Homem, terrível é o modo como os portugueses de hoje, abúlicos e manipulados pelos que julgam ser vértices da nossa inteligência, parecem incapazes de um gesto de indignação perante aquela não escolha de obras, todas de artistas respeitáveis, conhecidos sobretudo fora da gravura que nos honra, embora capazes de surgirem ali, sem regra nem abertura, pois a sua reputação curricular não os classifica como gravadores e nem é sábio Portugal fazer-se notar no início deste património com nove artistas apenas, no quadro de uma omissão irreverente e descuidada da verdade. Nem sequer é preciso ir muito longe para nos tornarmos maiores: ali faltou a coragem de nomear objectivamente GIL TEIXEIRA LOPES, BARTOLOMEU CID e DAVID DE ALMEIDA. Esta nota precisa de que se diga haver muitos mais gravadores portugueses da época moderna, mas, dedilhando as ranhuras dos antiquíssimos desenhos que nos distinguem, mais atrás e justamente poderíamos chegar ao ponto de distinguir outras figuras de outros tempos, espíritos que nos honram ainda, bem como a nossa fecundidade criadora, a arte que tanto esquecemos e dividimos. É grave que o hábito de usar cassetes modernas mas irremediavelmente afundadas além das outras faça com que as instituições próprias inaugurem este importante património com um gesto de pequenez, incapaz de se tornar velame de 500 ou lâmina da primeira implantação de um povo de pouca força, mas cuja diáspora, hoje, vale bem um resto de indignação perante arranjos com este perfil, nem crise nem sonho, gente enfim disfarçada, sem convencimentos, gente borboleta, de breve vida, nomes de ontem e de agora colocados no canto de nada, como se o mundo não os tivesse visto antes de nós mesmos. Bom era que abrissem os museus tumulares, nos quais há património de gravura que bem poderia (aqui) fazer a ponte entre a grandeza de um fragmento da nossa verdade artística específica e o horizonte longínquo no qual tanta gente retratou tantos animais, entre o desejo e da esperança.

quarta-feira, julho 21, 2010

CONSTITUIÇÃO MEIO RASGADA, AINDA DE NOME SOCIALISTA E JÁ AMPUTADA DA JUSTA CAUSA

Passos Coelho, alternativo
O rapaz pareceu-me dotado de bom senso e os portugueses em geral apreciaram que ele tivesse estendido a mão ao vilipendiado Sócrates. O país precisava disso como de pão para a boca e os sonhos de vencimento da crise iam e vinham nos passeios do nosso desencanto, apesar das festas, mega concertos, viagens para ilhas encantatórias e outros continentes. País (outrora) de marinheiros, Portugal engorda uma colossal e helénica mitologia das praias e do bronze. Qualquer crise passa sempre um bocadinho ao lado e os partidos, olímpicos, sectários, opacos, ensandecidos com a competitividade, o clubismo cego, a petrificação programática, quase nem perceberam o forte enfarte de miocárdio de que o capitalismo (selvagem ou assim-assim) foi vítima. Convalescente, ainda nos cuidados intensivos, ninguém ao certo pode garantir que este sistema está livre de perigo.
Mas eu tinha começado por falar do líder PSD, Passos Coelho. Ganhou com razoável limpeza o lugar, batendo dois adversários contrastantes: Rangel, sobretudo, rangeu quanto pôde e meteu medo a muita gente, porque a retórica e os gritos, ainda que com algumas razões, desertificam senados e nivelam a modernidade por certezas a duas dimensões.
Partem pessoas para férias, a crise ferve, Medina Carreira, com a sua cassette, nunca mais acaba de multiplicar diagnósticos, arrasando os cérebros miniaturais dos políticos, dos deputados, mas sempre sem um plano bem estruturado para dizer onde se corta e como, onde se esfola e de que forma, onde se constrói e com que parcimónia, de que lado está Portugal, enfim, no mundo da globalização aberrante. Qual é o nosso novo caminho marítimo para a Índia?
E então, na pior altura táctica e estratégica, algumas veladas palavras de Passos Coelho, foram pingando para a sociedade civil. E de súbito, com os carros a aquecerem para a primeira volta, o rapaz derrama sobre o país uma espécie de revisão constitucional, quase uma substituição da nossa Carta de Nação. Claro que o documento, que altera mais de cem artigos, foi grelhado por uma comissão de «peritos». Mudando tanta coisa, por vezes com algum cinismo, deixaram a palavra socialismo a encimar o nosso Pórtico de 76. Esqueceram-se ou procuraram derrubá-lo com o esmagamento e nova redação dos artigos? Os maiores constitucionalistas, ao comentarem ontem à noite este tufão, mostraram, urgentes, que era tempo de desnomear ideologicamente a Constituição e fazer os ajustamentos e actualizações necessárias, com bom senso, e aliás noutra altura mais apropriada, porque uma tão grande enchurrada de letras só vai atrapalhar tudo, criando manobras contra a concentração no combate à crise que é preciso apurar.
Dando uma vista de olhos pelos jornais (desta vez não para usufruir de mais um boato ou escândalo centrado em Sócrates), vemos que os partidos da esquerda consideraram a proposta do PSD « um ataque aos princípios da democracia.» O comunista António Filipe denunciou que o fim da "justa causa" levaria à arbitrariedade dos despedimentos. José Manuel Pureza alertou para o fim da gratuidade (mesmo tendencial) da saúde e da educação, lembrando que a responsabilidade de travar este projecto cabe ao PS, cujos votos são necessários para fazer a maioria de dois terços e para aprovar as alterações ao texto. À direita, o CDS acusou o PS e o PSD de tratarem a revisão com "tacticismo político", simulando um desacordo depois de terem chegado a acordo no PEC».
Desde esta surrealidade do CDS à despropositada artilharia do PSD, Portugal, sem necessidade dos Sindicatos, devia invadir em massa os partidos e clamar pela voz do povo, que é quem mais ordena.
Coelho, ao criticar ontem, na televisão, a mania de uma Constituição inamovível, o que é mentira rasca, quase lhe fugia a boca para dizer que daqui a uns anos teriamos uma Carta terceiromun... e logo atalhou para antiquada, imprestável. Mas ele devia saber que há períodos constitucionais determinados para as revisões correntes e que o texto português ainda é um dos mais avançados do mundo: coisa que se diz, naturalmente, com verdade histórica, política, e sem sectarismos de uma qualquer cegueira (mesmo branca) que ande por aí.
João Proença, da UGT, considerou que este documento «é o pior ataque ao Estado Social desde o 25 de Abril.» Ao falar sobre a frase que substitui justa causa, uma das mais cruéis e hipócritas mudanças ao texto cnstitucional, tanto esse sindicalista como os verdadeiuros peritos da matéria alargaram a voz e o gesto, sem patetices como «olhem que isto é mais profundo do que parece e tem de ser bem estudado». Coelho acha que de justa causa se deve passar para causa atendível.
Jorge Miranda, eminente constitucionalista, que fez parte da Assembleia Constituinte em 76, afirmou ontem (à Renascença) que a substituição de «justa causa» nos despedimentos «não pode ser aceite» porque viola os limites materiais da Constituição.
Além do aumento dos poderes do Presidente da República, que passaria a poder demitir o Primeiro Ministro sem haver eleições, e teria mandatos de 6 anos, entra em cena a «moção de censura construtiva» que daria lugar, perante o aceitamento dos conteúdos construtivos, à possinbilidade de prolongar-se a acção governativa, mesmo com vitória do acto censório. Paulo Otero denuncia a contradição entre reforço dos poderes presidenciais e a criação da figura da moção de censura construtiva.
E, entre tudo isto, os ganhos da Assembleia da República são, no mínimo, curiosos: A Assembleia da República iria alcançar o poder de se auto-dissolver, provocando eleições antecipadas sem constrangimento de prazos, além de ter o poder de substituir o Primeiro Ministro, sem ouvir o Presidente.
Passos Coelho escorregou e arranjou alguns eufemismos para se defender. Esta última disposição aqui citada faz-nos pensar, afinal, que há nesta aventura mazelas de terceiro mundo (com os nossas desculpas a quem luta nessa penosa condição civilizacional e cultural). Mas oiçamos ainda a voz de um homem do PSD, com lomga carreira, actual presidente da Câmara de Cascais, António Capucho, ao comentar o processo kafkiano de Passos: «Penso que se podia ter ido mais longe».

sexta-feira, julho 02, 2010

BONS OFÍCIOS DOS MERCADOS LIVRES E CEGOS

ERA PARA COMEÇAR AQUI UMA PROVA
SOBRE A BONDADE DOS MERCADOS LIVRES
E CEGOS DE CONTROLO MAS O
BLOG ENTROU NUM REGIME DE PROIBIÇÃO
DE CARACTERES QUE DESCONHEÇO
E TORNOU IMPOSSÍVEL INTERVIR ASSIM
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recomeço
Parece não haver forma de convencer as transnacionais (monstros já de si impróprios da natureza humana ) de que tais formas de concentrar riqueza, poder de compra, sempre no apetite de abocanhar os outros, são sempre anunciações de derrocadas futuras, a famosa fórmula dos mercados livres, totalmente livres de todas as circulações, incluindo as maiores trocas de dinheiro por patrimónios de grande valor monetário e cultural.
Pois eu ia falar da história (não sei se remota se contemporânea) de um multimilionário que descobre certa empresa de telecomunicações, assaz desenvolvida para o pequeno país em que se implantava. País pobre mas tranquilo. O multimilionário foi junto das autoridades mostrar o seu interesse em comprar aquela companhia. Os governantes do país liliputiano responderam com todo o polimento que não estavam interessados em vender aquele património activo, uma das suas maiores plataformas estratégicas. Mas o homem rico não os largava e foi lançando dinheiro em propostas cada vez maiores sobre a mesa que ele chamava de negociações. Claro que, após dezenas de recusa, e chamados os accionistas umareunião decisória, estes concordaram com a venda. O homem mostrou-se satisfeito e, ao assinar o título e compra, revelou que iria manter todo o passoal, embora acrescentasse alguns seus representantes no Conzselho de administração.
Logo o país se ressentiu de vários formas usadas na avaliação das tabelas, novas compras, a electricidade produzida por uma barragem de valor vital. Claro que uma coisa idêntica a esta alastra avassaladoramente pelo mundo. O menino quer, o próprio menino compra. O nosso multimilionário era um pouco assim. E ainda ameaçou com opas agressivas que pareciam mesmo um filme de ficçao científica, com espiões sonre empresas atacáveis. Mas a história deste pequeno país foi passando por essa guerra surda, virtual, enquanto o multimilionário esplhava gorjetas por todo o lado, eventualmente corruptoras, investindo em fábricas que só ele podia gerir e vender. Tudo isto contaminou o país inteiro, controlando o sistema de ensino, traficando conhecimentos e universidades, abaendo embarcações porque o peixe começava a escassear e havia possibilidades de criar alternativas a partir do estrangeiro. Até a religião (católica, neste caso) ficou em risco: o senhor todo-poderoso queria melhorara assistêmcia espiritual à sociedade e inciou uma operação de compra das igrejas, agrupando noutras as mais pequenas. Tomou conta dos artesanatos, deslocou populações, das grandes propriedades abrículas. Terra Nossa incluia cem importantes herdades, com uma sede milionária na capital. Opas sobre opas, cada vez as pequenas e médias empresas mais fiacavam isoladas, sem verdadeiro financiamento, até porque o país já se endividara, através dos bancos e do exterior, a fim de socorrer os deslocados, embora mitos casos não tivessem implicado isso, nem mesmo a saída dos donos patrimoniais. Os pobres aumentaram, rodeados de novos ricos um pouco por toda a parte.
Este país já não existe enquanto tal. Ficou dominado literalmente por um grande Consórcio nomeado Oceanoportocali. O governo, escolhido entre dois partidos, restos do que havia vinta anos atrás, alterna com aquelas forças, estas sim, vivendo na abastança. Havia uma política dupla e livre quanto aos orçamentos. Os técnicos dessa especialidade viviam a maior parte do ano em ilhas do EStado, embora haja quem diga que faziam por aí a sua economiazinha doméstica. Para lá das furnas da parte virada ao Pacífico, populações caçavam baleias e produziam óleos diversos, coleccionando também, e por outro lado, peles previosas de animais em vias de extinção. Deus, como habitualmente, estava distraído. Mas há uma zona do Universo que parece merecer-Lhe um particular interesse, sobretudo por haver aí um planeta habitado por seres inteligentes e que em pouco mais de 6.000 anos arrasaram mais ecosistemas do que os seus semelhantes ao longo de épocas remotas, há cerca de 40.000 anos. Tudo se vai alterando no planeta e a uma velocidade inquietante: ressurgem vulcões, multiplicam-se tufões e tornados, ventos roçando os 300 quilómetros por hora, terramotos no interior dos oceanos e fora, tsunamis assim desencadeadis que já destruiram cidades inteiras na Ásia e nas Américas, enquanto regiões polares se desfazem e aumantam o nível dos oceanos. O aquecimento da atmosfera leva continentes de gelo para zonas do Atlântico ou Pacífico, comunicando-se numa média aterradora.Este fenómeno tem fortes ligações com indústrias e máquinas dependentes do petróleo, sendo certo, por outro lado, que os países de cota baixa estão quase sempre inundado e a Estações do ano deixaram de fazer-se sentir: um tempo mais ou menos frio a norte e verões de um só mês, calor capaz de matar gente, o mar, mais alto, invadindo e comendo praias inteiras e destruindo grandes estruturas sobretudo dedicadas ao turismo. Nova Orleães, destruída pelo mar e por tornados incontornáveis, nunca mais foi reconstruída e por lá vive gente solitária, empobrecida, corando o ritmo da sua música de outrora e o pitoresco da invenção comunitária.
a propósito desta história, lembrei-me agora do negócio megalómano que estava para se fazer em Portugal. Não sei o que se passa. Mas vão ganhar certamente os mais fortes. Os accionistas defendem-se, com dinheiro, dos tsunamis, não defendem um certo conceito nobre de soberania, porque esse conceito também está em vias de extinção.